sexta-feira, 29 de maio de 2009

Dúvidas e Incertezas

O que existe para além daquela montanha? Será que existe algo melhor do aqui onde estou?
É sempre uma ilusão, um desejo de haver algo melhor. E o medo do desconhecido não me deixa avançar. Fico aqui a observá-la. Como se fosse uma criança a olhar um adulto, sempre mais alto do que eu.
Se não fosse tão inseguro, ou insegura, avançava, atravessava a montanha e descobria. Mas será que o que está para lá da montanha é o que eu quero?
Fico confuso, confusa, não sei. Se calhar é uma mera ilusão de que aquilo me fará feliz, que é o que procuro. Mas afinal que procuro eu? Já estou há tanto tempo à espera, que já esqueci o que espero; será um príncipe encantado? Uma princesa encantada? Um filho? Um amigo? Realizar um desejo?
Esqueci-me! Passou muito, muito tempo. Quem me dá a garantia que para além da montanha está o que procuro? Se eu soubesse! Como seria feliz! Sento-me e espero, olho a montanha e não sei se a atravesso. E se o que procuro está aqui deste lado? Que caos! Que confusão! Não sei o que pensar sinto-me perdido, ou perdida...
Um dia Deus disse-me para me sentar aqui e esperar, não me disse o que esperar, apenas ordenou que eu esperasse.
Sou um anjo, por isso não tenho sexo, não sei se sou homem ou mulher, estou confuso, confusa, estou à deriva. Para que lado hei-de ir?
Deverei atravessar a montanha? Ou espero, nesta espera que me mata? Que me consome, não me mata, pois como anjo sou imortal. Porém, fico desesperado ou desesperada. Por não saber o que procurar, não sei o que me fará feliz, apenas sei que como anjo tenho a eternidade para descobrir. E se eu nunca descubro? Que será de mim? Oh, meu Deus! Porque me abandonaste? Qual a razão de me deixares a chorar sem consolo? Que fiz eu? Algum pecado? Se pequei e não sei, estou arrependido, arrependida. Quero apenas um pouco de paz para a minha alma.
Passam dias, semanas, meses, séculos, milénios e eu aqui nesta espera eterna. Se soubesse o que esperar, quando o visse passar, dir-lhe-ia: fica, és tu que procuro. Como não sei, fico à espera que o tempo passe, e que esta espera se torne menos dura e solitária. Espero por quem não vem ou já passou e a eterna dúvida, se hei-de ou não atravessar a montanha, toma conta de mim; devo obedecer a Deus? Terei eu força para desafiá-lo; ele nunca mais me disse nada, só disse: espera, nunca o quê ou quem.
Aos estranhos que passam e a quem dou um conselho sobre a vida, conto-lhes o meu martírio e eles, com pena de mim, contam-me histórias que passo para o papel. Essas histórias que depois reconto, à minha maneira, com o cuidado de as bordar para que, quem as possa ler, não descubram que é a sua própria história. Pensam que é apenas alguém, que sofre neste mundo que está perdido. Pois se nem o anjo da espera sabe porque espera, como onde saber os outros o que esperar?
Este anjo que espera mata o seu tempo a escrever. À espera que algo aconteça.
É a esta a infelicidade dos que não sabem o que querem.



© Madrigal
6 de Outubro de 2003

Um comentário:

Menphis disse...

Que nunca deixes de escrever quando encontrares aquilo que tanto procuras...