segunda-feira, 4 de julho de 2016

Branwell Brontë e o desperdicio continuo de oportunidades


Branwell, Self-Portrait




Não se admirem por não reconhecerem o nome de Branwell Brontë. Apenas o conhece quem um dia leu algo das irmãs Brontë, como são conhecidas no meio literário, Charlotte, Emily e Anne.
O irónico da história é que era ele quem o pai esperava ver um dia nas páginas dos livros de história, na secção da Literatura ou talvez da Pintura.
Como rapaz recebeu uma educação bem mais esmerada que as irmãs, que para além do básico, foram depois aperfeiçoar os talentos numa escola para poderem ser preceptoras ou governantas. As únicas profissões que as mulheres da sua classe podiam exercer, já que não sendo ricas, não podiam aspirar a casar.
Ao longo da sua vida, Branwell foi de situação em situação nunca tendo alcançado nada. Primeiro foi para a universidade onde ia estudar Pintura. Pintar ele pintou, mas perdeu-se nos pubs e no consumo de ópio, vicio que nunca iria abandonar.
Tenta ainda uma carreira nos caminhos de ferro e mais uma vez a sua oportunidade de prosperar foi perdida. Estávamos numa altura em que o caminho de ferro se expandia à velocidade da luz. Qualquer um podia fazer carreira, mas não Branwell que termina em maus lençóis pois as suas contas não batiam com as da empresa.
Por fim, Branwell torna-se tutor numa casa de uma família rica. Na altura era comum as famílias mais abastadas terem alguém para ensinar os filhos. Branwell achou que também podia ensinar coisas à sua patroa e daí a envolverem-se foi um pequeno passo. Mais uma vez Branwell volta para casa em desgraça. Mas não tem mais tempo para aventuras pois acaba por sucumbir à febre tifoide.
Das irmãs era esperado que arranjassem um trabalho e que eventualmente casassem, se aparecesse alguém que aceitasse a falta de dote.
O que acontece é que desde pequenas todas tinham escritos histórias e o Branwell também já agora. Eventualmente Charlotte decide publicar um livro de poemas, uma compilação dos poemas escritos por ela e pelas irmãs. Foi um fracasso. Contudo, elas não desistiram e lançaram-se a escrever livros. O sucesso foi imediato para a Jane Eyre de Charlotte; mais comedido para O Monte dos Vendavais de Emily e quase insignificante para Agnes Grey de Anne.
Os livros das três ainda hoje são lidos e estudados, em especial os que referi.
De Branwell também se fala, mas apenas porque era irmão delas. Se não fosse assim hoje seria apenas uma figura perdida que nem sequer estaria na historia local de Haworth, no Yorkshire.
Eu penso nele algumas vezes e na forma como perdeu tantas oportunidades e como as irmãs lutaram e conseguiram tanto, apesar de serem mulheres.
Ainda há uns tempos alguém me dizia que a ex-mulher do marido tinha tido muitas oportunidades para arranjar emprego, mas que nunca as agarrava. Eu pensei logo no Branwell e como a sua historia se repete ainda hoje.

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