domingo, 3 de janeiro de 2016

Sobre o filme Como Àgua Para Chocolate e a improbabilidade das coisas que nos acontecem

O filme e o livro Como Água para Chocolate são dois grandes favoritos meus. O filme é uma das poucas adaptações de livros que vi que é absolutamente fiel ao livro.
Como favorito nunca me canso de ver e comecei o ano a vê-lo ou melhor deu na sexta-feira à noite na RTP2 e eu aproveitei para rever.
 
Alguns minutos antes de começar o gastrónomo José Bento dos Santos falou sobre como Aztecas consumiam o chocolate, com água e especiarias muito diferente da forma como o consumimos hoje.
Mas o que me chamou a atenção foi ele falar da cena em que é servido o prato codornizes em pétalas de rosa. O José Bento dos Santos falou da cinematografia ser soberba nesta cena. 
O interessante nesta observação dele não é o que ele disse, com todo o mérito que as palavras dele têm, mas a escolha desta cena. Digo isto porque há muitos anos li uma entrevista com o Marco Leonardi, o protagonista do filme, em que ele dizia que tinha sido precisamente nesta cena que ele e Lumi Cavazos, a protagonista feminina do filme, se tinham apaixonado.  Ela não falava italiano e ele não falava espanhol, então era tudo à base de olhares e inglês macarrónico. Durante anos eles foram um casal, mas acabariam por se separar.
Sendo Marco Leonardi um actor italiano a probabilidade de participar num filme made in México era bastante baixa, ainda mais no inicio dos anos 90. No entanto, Alfonso Arau, o realizador do filme viu-o no Cinema Paradiso e decidiu contratá-lo. Dizia Arau numa entrevista que Marco era muito bonito e no México os actores não eram assim bonitos. Arau sentiu necessidade de contratar um actor belo pois precisava que o público visse o que Tita (Lumi Cavazos) via nele. Segundo ele, naquela altura um homem que se apaixonasse por uma mulher com a qual não se podia casar simplesmente fugia com ela. Algo que Pedro não faz. Se Pedro roubasse Tita e fugisse com ela não tínhamos livro. Da mesma forma que Tita por ser a mais nova das irmãs não se podia casar pois teria de tomar conta da mãe até esta morrer, era a tradição familiar. Bastava Tita não ter nascido por último ou Pedro ter tido coragem e raptá-la.
Mas aí não tínhamos livro ou filme e a probabilidade de Marco Leonardi conhecer Lumi Cavazos era muito remota.
Pensando nisto tudo penso que realmente o improvável é muitas vezes aquilo que acaba por acontecer, em vez do esperado...

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