quarta-feira, 10 de março de 2010

esperando...

Amo-te tanto que não sei amar, amo tanto o teu corpo e o que em ti não é o teu corpo que não compreendo porque nos perdemos se a cada passo te encontro, se sempre ao beijar-te beijei mais do que a carne de que és feita, se o nosso casamento definhou de mocidade como outros de velhice, se depois de ti a minha solidão incha do teu cheiro, do entusiasmo dos teus projectos e do redondo das tuas nádegas, se sufoco da ternura de que não consigo falar, aqui neste momento, amor, me despeço e te chamo sabendo que não virás e desejando que venhas do mesmo modo que, como diz Molero, um cego espera os olhos que encomendou pelo correio.


In Memória de Elefante de António Lobo Antunes.


( a negrito a minha parte favorita, quantas vezes não esperamos por coisas que sabemos que nunca irão acontecer??)

2 comentários:

Menphis disse...

Desde que nos levantamos até nos deitarmos pensamos mais vezes nisso no que no que está mesmo a acontecer.

Madrigal disse...

De uma forma muito simples disseste uma grande verdade.