Confesso que me custou um pouco entrar neste livro... já não estava habituada à forma como Lobo Antunes escreve, desabituei-me lendo os Cus de Judas...
Contudo a partir do momento em que o livro começou a prender-me já não o consegui largar, tal como aconteceu com os outros.
Há quem diga que o inferno é aqui na terra, o retrato do Hospital Miguel Bombarda, faz crer que isso é verdade, este hospital, o refúgio dos doentes mentais, personifica esse inferno. Um lugar amaldiçoado por quem lá trabalha, por quem lá "vive".
No seu retrato minucioso, sempre cheio de detalhes que muitas vezes parecem não ter importância, mas que têm muita Lobo Antunes, critica a forma como os doentes são tratados, os próprios psiquiatras e nisto tudo, perguntei-me se não estaria a criticar a sociedade. Os psiquiatras talvez personifiquem aquelas pessoas que tem um conjunto de regras para viver e os doentes aqueles que querem criar as suas próprias regras, pois as que existem não lhes servem. Terei eu razão? Talvez sim ou talvez não. O problema dos livros deste escritor é que é difícil escrever sobre eles, quase tão difícil como lê-los. Acredito que Lobo Antunes pertence a uma espécie única de escritores, aqueles que são para saborear e não para entender, apenas devemos beber estas palavras, com o tempo lá virá o entendimento de todas elas. Das que foram entendidas agora fica o magnifico retrato da condição de médico psiquiatra, de doente mental e das pessoas que têm de lidar com quem tem alta de um hospital psiquiatrico, já se sabe o estigma que as doenças mentais trazem às pessoas e o povo diz, talvez com razão, que não se pode confiar nos malucos.
Um comentário:
É uma batalha lermos Lobo Antunes, mas é uma batalha saborosa. Ele ganha-nos com a sua genialidade.
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