domingo, 12 de junho de 2016

Sobre a violação

Um gajo violou uma gaja nos Estados Unidos. Violou-a numa lixeira, enquanto ela estava inconsciente. Foi apanhado em flagrante. Após um ano de julgamento, é condenado a seis meses de prisão. Seis meses de prisão porque, segundo o juiz, uma pena mais pesada teria um efeito devastador na vida do rapaz. Branco, rico, aluno exemplar. O pai do rapaz veio a público dizer que era injusto o filho sofrer tão pesadas consequências por uns meros "20 minutos de acção".
Acção. Penetrar ...uma mulher inconsciente. Despi-la. Montá-la como se ela fosse um animal. Tirar fotos do feito e mandá-las aos amigos. "20 minutos de acção".
Porque, afinal de contas, ela estava bêbada. Ela foi com ele. Estava a pedi-las. Ele também estava bêbado. Ela deveria ter tido mais cuidado. Ele não. Ele estava bêbado. "A culpa é do álcool", foi um dos argumentos em tribunal. Seis meses de prisão por destruir a vida de uma pessoa.
O caso está a gerar tanta indignação e revolta que até o vice-presidente Joe Biden escreveu uma carta aberta à vítima.
E, no entanto, nas redes sociais, nas conversas de café, ouve-se o triste argumento "ela estava a pedi-las". E não é dito apenas por homens.
Às vezes pergunto-me, neste país de brandos costumes, quantas raparigas serão violadas nas mesmas circunstâncias. Quantas, depois de terem bebido, terão dito "não" (se ainda estivessem capacitadas para isso) e terão recebido, em troca, "a foda que mereciam". Quantas mulheres, em relações, independentemente da idade, terão recusado sexo mas se viram forçadas a fazê-lo porque...afinal de contas..."ele ama-me". Quantas sofrerão as consequências em silêncio.
Esta não é - não pode ser - uma cruzada contra os homens. Esta é uma batalha pela mudança de mentalidades. Para que percebamos, de uma vez por todas, que o nosso corpo e a nossa palavra têm valor. Que não é por sairmos à noite, por andarmos sozinhas na rua, por vestirmos roupas curtas, por bebermos, que "estamos a pedi-las". Esta é uma cruzada contra o silêncio. Contra a vergonha.
 
 
retido da página de facebook: A Gaja
 
 
ainda há umas semanas falava-se do caso da menina brasileira barbaramente violada. Na altura vi um cartaz que dizia algo como: não ensinem a mulher a não ser violada, ensinem os homens a não violar.
 
E eu pergunto: será assim tão difícil ensinar aos homens o respeito pelo próximo, o respeito pela mulher? A entenderem que uma mulher de saia curta não está a pedi-las? Afinal os homens são animais que não se conseguem dominar? Seremos nós mulheres meros objectos para a satisfação do desejo deles??
As vezes, acho incrível que tenhamos evoluído apenas na aparência e continuamos tão retrógrados nestas coisas.
 
 
 
 
 
 

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