segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Estrela da Tarde - José Carlos Ary dos Santos



Era a tarde mais longa de todas as tardes

que me acontecia

Eu esperava por ti, tu não vinhas,

tardavas e eu entardecia

Era tarde, tão tarde, que a boca,

tardando-lhe o beijo, mordia

Quando à boca da noite surgiste

na tarde tal rosa tardia

 

Quando nós nos olhámos tardámos

no beijo que a boca pedia

E na tarde ficámos unidos

ardendo na luz que morria

Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste

o sol amanhecia

Era tarde de mais para haver outra noite,

para haver outro dia

 

Meu amor, meu amor

Minha estrela da tarde

Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde

Meu amor, meu amor

Eu não tenho a certeza

Se tu és a alegria ou se és a tristeza

Meu amor, meu amor

Eu não tenho a certeza

 

Foi a noite mais bela de todas as noites

que me adormeceram

Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas

e beijos se encheram

Foi a noite em que os nossos dois corpos

cansados não adormeceram

E da estrada mais linda da noite

uma festa de fogo fizeram

 

Foram noites e noites que numa só noite

nos aconteceram

Era o dia da noite de todas as noites

que nos precederam

Era a noite mais clara daqueles que à noite

amando se deram

E entre os braços da noite de tanto se amarem,

vivendo morreram

 

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura,

se é riso, se é pranto

É por ti que adormeço e acordo

e acordado recordo no canto

Essa tarde em que tarde surgiste

dum triste e profundo recanto

Essa noite em que cedo nasceste

despida de mágoa e de espanto

 

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem

se quer tanto!


 

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