Há uns anos vi uma entrevista com o António Lobo Antunes e fiquei absolutamente fascinada por ele, tanto que fui comprando os seus livros e até fui a uma sessão de autografos no já distante ano de 2004. Antes da sessão propriamente dita, o Lobo Antunes falou e respondeu a algumas perguntas, fiquei ainda mais fascinada e de sorriso nos lábios, quando ele ao autografar os livros não o fazia de uma forma mecânica e sim demorada, olhando os livros, com certeza devia de querer apreciar as capas já que eram edições e livros diferentes.
Contudo até à data ainda não li nada, vou adiando de dia para dia, de mês para mês, de ano para ano... No fundo porque tenho receio de me desiludir, é um bocado como estar apaixonada por um amigo e temer perder essa amizade por o amor não ser correspondido.
Em blogs, foruns encontro muitas acusações a Lobo Antunes, que é arrogante, convencido, vaidoso e todas aquelas coisas simpáticas que se dizem de alguém de quem não se gosta.
Além disso existem ainda acusações que ditam que os livros dele não prestam, alguns ainda reconhecem o mérito de um ou outro livro, mas se Lobo Antunes se tivesse dedicado à psiquiatria é que tinha feito um bem à sociedade.
Reconheço que nós, seres humanos, na nossa diversidade gostamos de coisas diferentes e se eu deliro a ouvir o grupo X, isso não significa que o meu vizinho também goste. Mas no caso do Lobo Antunes tanta má língua, tantas acusações faz-me pensar noutra coisa: a famosa dor de cotovelo que tanta gente parece sofrer.
Possivelmente, e aqui baseio-me em opiniões que já li, a escrita de Lobo Antunes, não será muito fácil e logo exigirá um esforço maior, não será concerteza o indicado para a ler no comboio, no percurso casa - escola ou trabalho. Daí uma primeira tentativa resultará em frustação e ao inevitável abandono do livro. Isto até podia ser verdade para um outro autor, mas lembrem-se que estamos a falar de Lobo Antunes cuja a fama de ser arrogante o procede e é português. Todos sabemos que encontramos mais facilmente pessoas que leram a obra toda de um qualquer escritor estrangeiro a terem lido sequer um livro de um escritor português. Assim, está em causa um certa arrogância por parte do leitor e um certo embarasso em admitir uma verdade simples: não consigo entender este gajo, bem podia ter ido plantar batatas a escrever livros. É por isso que acho que no fundo existe aqui uma dor de cotovelo, eu não consigo gostar então o problema não está em mim mas nele e a isso acrescenta-se o velho adágio, é português, não presta, etc, etc.
Acredito que não há melhor qualidade do que admitir que não somos capazes, mas infelizmente os portugueses não são assim. Em vez de admitirem as suas limitações gostam é de atirar pedras...